quinta-feira, 27 de junho de 2013

Herança judaica em Trás-os-Montes

Em Trás-os-Montes, como no restante território da Península Ibérica, há registo da presença de comunidades judaicas desde a época da ocupação romana, embora se acredite que esta presença é muito mais antiga. Em Trás-os-Montes, como em todas as zonas raianas, a presença judaica cresceu significativamente com a expulsão dos judeus da Espanha dos Reis Católicos. Esta presença, diluida e dissimulada após as conversões forçadas de D. Manuel, deixou marcas na paisagem humana destas vilas e cidades. A gastronomia é um dos registos, como bem documentam Graça Sá-Fernandes e Naomi Calvão, nos Sabores Judaicos (2008, Assírio e Alvim).

Na primeira parte, as autoras apresentam receitas utilizadas nas festividades do calendário religioso judaico, e na segunda parte, propõem outras receitas, praticadas no quotidiano. São receitas recolhidas junto das famílias cristãs-novas transmontanas, e muitas delas são reconhecíveis como receitas tradicionais de Trás-os-Montes, ou genericamente portuguesas, como os sonhos, a aletria, as empadas de galinha ou a bola de bacalhau. Outras têm traços de exotismo para nós, portugueses não judeus: a pasta de frango e noz, o peixe assado com molho de mel e hortelã, o pudim de urtigas, o cordeiro assado com salada de laranja e madressilvas.

Não é estranho perceber que entre cristãos e judeus terão ocorrido influências mútuas, que contribuiram para enriquecer a cozinha transmontana e portuguesa em geral, e que, não obstante o zelo das comunidades judaicas em preservar a sua cultura, esta terá também sido permeável aos hábitos e aos ingredientes locais.

E como é a presença dos elementos locais, e a sua combinação com as influências dos povos que sucessivamente vão chegando, que tornam único cada lugar da terra, assim estas vilas e cidades que acolheram comunidades judaicas são lugares únicos. A Rota das Judiarias de Portugal tem justamente como objectivo unir estes lugares numa plataforma comum, cujo objectivo é recolher, classificar, divulgar e valorizar esta herança.